Monday, September 29, 2008

Há-de flutuar uma cidade

há-de flutuar uma cidade no crepúscolo da vida
pensava eu... como seriam felizes as mulheres
à beira mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado

por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos... sem ninguém

e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão

(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)

um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade



Al Berto

O que tem ocupado os meus dias e noites.

7 comments:

Anonymous said...

Foi então que dei por mim a existir para lá da tua morte,
como se asfixiasse. Mas o passado não é senão um sonho.
Uma brincadeira com clepsidras avariadas e algum sangue.

Não vale a pena estar triste.

Todas as histórias , todas as mortes, acabam por se apagar.

Anonymous said...

Gostava de apagar a minha cabeça, sabes?

c. said...

sei.

Anonymous said...

I guess we were not born to be happy people

PedroSilva said...

é de se ver o eternal sunshine of the spotless mind (acerca do apagar a cabeça, e sem querer me intrometer em conversa alheia)

Anonymous said...

Recebi uma sms a dizer que te avistaram no Jardim da Estrela, deitada num banco a dormir com headphones nos ouvidos e descalça. Era para confirmar a veracidade destas afirmações.

(Não tenho dinheiro para as telecomunicações. Sou pobre todos os dias.)

c. said...

(os meus agradecimentos à rita e respectivo namorado, pela rápida difusão informativa)